Segundo
Sonnerborn e Kessler (2013), por ocasião da exposição no Congresso na
Eidgenössische Technische Hochschule, Jung foi fotografado com o indicador de
uma das mãos diante de um Mandala apontando para o centro, referindo-se à
função arquetípica do Self de conduzir ao centro. Nise destaca e comenta a
foto: “Este é um gesto que por assim dizer resume a psicologia junguiana:
apontar para o centro, o Self, simbolizado pela Mandala. O Self é o princípio e
arquétipo da orientação e do sentido: nisso reside sua função curativa”
(SILVEIRA, 1981, p. 52-53).
Processo de Individuação
Para Jung, o processo de individuação é natural, inerente ao ser humano, podendo ser entendido como uma “[...] tendência instintiva a realizar plenamente potencialidades inatas” (SILVEIRA, 2003, p. 77-78).
Pode-se ver na obra de
Jung diversas passagens em que o processo de individuação é expressivamente
relacionado às Mandalas.
Segundo
Nise da Silveira (2003), no curso do processo de individuação, em torno desse
centro e em função dele, vêm organizar-se os diferentes fatores psíquicos e
mesmo os mais irreconciliáveis opostos... Cria-se uma ordem que “transforma o
caos em cosmos”.
Jung (2012) acumulou
informações por dez anos, antes de publicar em 1929, pela primeira vez sobre o
tema, conceituando Mandala como:
Uma imagem cuja
existência é verificável através de séculos e milênios. Designa a totalidade do
Si-mesmo.[...] A Mandala visa à unidade, isto é, representa uma compensação da
cisão, isto é, sua superação antecipada. (JUNG, 2012, p. 289).
Sonnerborn e Kessler
(2013), D. destacam que Jung (2011a) constatou que em muitos de seus pacientes
o símbolo da Mandala surgia espontaneamente, em sonhos, fantasias, desenhos,
tanto em momentos de crise como durante o processo de análise, evidenciando
equilíbrio e ordem, e assim, percebeu que se tratava de manifestações do Self,
enquanto totalidade organizadora do indivíduo.
Na natureza, em
condições de turbulência aparecem fenômenos espontâneos de organização. É o que
também acontece em processos psíquicos com a tentativa de auto organização das
desordens mentais, que podem ser expressas e até promovidas pelas manifestações
artísticas.
Entre estas, segundo
Jung (2011a), a pintura espontânea de Mandalas - representações
concentricamente dispostas – é uma busca inconsciente da reorganização
psíquica.
O trabalho de Nise da
Silveira, no Museu do Inconsciente, foi resultado de observação, pesquisa,
estudo e posteriores contribuições do próprio Jung, para quem Nise escreveu e
remeteu algumas fotografias dos desenhos de dos seus pacientes, que denotavam
complexidade e harmonia, aproximando-se aos desenhos de Mandalas contidos nos
textos de religiões orientais. Jung os reconhece como Mandalas, as quais “davam
forma a forças do inconsciente que buscavam compensar a dissociação
esquizofrênica” (SILVEIRA, 1981, p.52).
Às questões de como
tais produções poderiam ser interpretadas, Jung responde com perguntas como: “–
Qual o significado do desenho para o autor, quais os sentimentos que desejava
exprimir ao desenhá-los?”, destacando que os autores deveriam ser questionados
sobre os sentimentos que as Mandalas lhes evocavam (SILVEIRA, 1981).
Nise e Jung perceberam
o potencial do simbolismo da Mandala na psique, tanto como um recurso
integrador como tentativa de busca e conexão com o Self.
De acordo com a
concepção oriental, o símbolo mandálico não é apenas expressão, mas também
atuação. Ele atua sobre seu próprio autor. Oculta-se neste símbolo uma
antiquíssima atuação mágica, cuja origem é o “círculo de proteção”, ou “círculo
encantado”, cuja magia foi preservada em numerosos costumes populares (JUNG;
WILHELM, 2011).
“A Mandala possui uma
eficácia dupla: conservar a ordem psíquica, se ela já existe; reestabelecê-la,
se desapareceu. Nesse ultimo caso, exerce uma função estimulante e criadora”
(CHEVALIER & GHEERBRANT, 2006, p.585-586).
Confecção de Mandalas na Arteterapia
Toda situação nova é,
do ponto de vista da consciência, um caos a ser ordenado, o que pode gerar
medo, ansiedade e angústia frente ao desconhecido.
Segundo Bernardo
(2008), na Arteterapia, a confecção de Mandalas é uma atividade especialmente
indicada para facilitar a abertura ao novo sem grandes angústias, bem como o
acesso e a integração de novas possibilidades à consciência, ampliando-a.
No processo de
confecção de uma Mandala, cria-se um círculo que atua em nossa psique como a configuração
de um espaço integrador, análogo a um ventre, a um vaso, que corresponde ao que
algumas culturas indígenas chamam de “espaço sagrado” ou “vaso mágico”
(BERNARDO, 2008).
Simbolicamente, nos diz
Bernardo (2008) que esse espaço corresponde ao nosso mundo interno, no qual
acolhemos e trabalhamos com as nossa vivências, sentimentos e ideias, que é
como um caldeirão em que acondicionamos e germinamos as sementes do novo,
transformando nossas vivências em alimento de nosso crescimento psicológico.
Referências
Bibliográficas
BERNARDO, Patricia Pinna, A Prática da Arteterapia:
Correlações entre temas e recursos, volume I – Temas centrais em Arteterapia;
Editado pela autora; São Paulo, 2008.
CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de
Símbolos. 20ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.
JUNG, C.G. Os arquétipos e o inconsciente
coletivo: obra completa. V. 9; 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2011 a.
______. Memórias sonhos reflexões. 23. ed. São
Paulo: Nova Fronteira, 2012.
JUNG, C.G.; WILHELM, R. O segredo da flor de ouro:
um livro de vida chinês. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente. 4. ed.
Brasília: Alhambra, 1981.
______ Jung. (Coleção Vida & Obra); 19ª
edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
SONNEBORN, D., KESSLER A.S. Mandala: um símbolo do
processo de individuação., 2013 disponível em
http://portal.ulbratorres.com.br/revistas/documentos20132/4.pdf, Acesso em
março 2014.
Fonte: Texto fornecido pela Ana Alice Turbianelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário